domingo, 20 de julho de 2014

Namorin

Eu tinha uma certa ânsia toda vez que o via. Tesão mesmo. Mas a gente não podia ficar juntos. Não assim, às claras.
Mas acontecia, nos víamos quase que diariamente, antes do seu trabalho e logo que eu chegava do meu.
Eu não tinha tempo de fechar a porta da casa. Ele me agarrava e depositava em mim toda a vontade que escondia.
Pedia mais. Sempre pedia mais. Me queria sempre, mas era impensável nós ultrapassarmos aquilo que tínhamos.
Tudo regradinho, fechado, enclausurado. Desbravamos o mundo na minha cama e ninguém poderia saber.
Dizia banalidades, conversávamos como se eu fosse sua mulher, seu homem. Pedia-me conselhos e eu os dava, como se aquilo fosse a extensão da nossa cama.
Tinha um sotaque carregado do interior. Vivera alguns anos no sítio, puxava o r. Achava lindo quando me chamava e o r arrastava.
Falava isso no meu ouvido enquanto me comia. Eu descansava no seu peito e sentia vontade de chorar.
Certa vez ele entrou aqui e sentou na poltrona, desceu as calças e tinha uma câmera na mão. Eu perguntei o que era aquilo, já entendendo:
- Finge que eu não tou aqui. Namora a câmera.
Naquele dia eu não o via, mas o chupei olhando fundo a objetiva.


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