terça-feira, 26 de agosto de 2014

Ao estreito



Cu.
Pra mim, o cu sempre fora um estigma, uma barreira diferente a ser ultrapassada. Mas, no fim, a gente sempre acaba por enfrentá-lo. Depois que a gente aprende a xingar, manda qualquer um tomar no cu. Mas tomar no cu, literalmente, são outros quinhentos.
Tomei.
E foi bom.
Mas percebi coisas diversas enquanto me penetravam. Primeiro, que não curtia a penetração, mas a sensação de. Logo, o estímulo anal era muito mais excitante - e possivelmente ejaculatório - do que a própria penetração. Então, larguei mão. Deixei de dar, mas também não queria comer.
Trepava em sonhos.
Olhando os garotos
de havaianas na beira da praia.
Transava com seus pés no meu pau e a porra toda a escorrer nos seus dedos.
Mas o cu me enfrentava.
Olhava, assim, meio distante.
Comia, vezenquando, mas era distante.
Com rola eu me habituei facilmente, porque a rola se impõe, entra, empina e a gente gosta.
Mas o cu não saía da minha cabeça. Estreito, apertado, peludo, macho.
Enfrentei. Precisei enfrentar.
E descobri que cu é bom pra caralho. Em sua forma, consistência e pele. E cheiro. E a vontade quando ele abre e fecha, e pede. Pede língua, dedo, rola. Pede pra ser penetrado.
Estar do outro lado, por outro ângulo, algo mágico. Um cu inteiro.
Enquanto chupava, perdia-me em sensações, salivas e falta de ar.
Mordia, ele pedia.
Eu batia, ele gemia.
Metia, ele queria minha língua.
Endireitei-me na cama, olhei com sorriso de moleque quando ganha algo novo, e mergulhei.
Sufoquei naquele cu estreito.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

No Sofá


No relógio batiam duas da manhã. Já fazia duas horas que aquela cena acontecia e meu pau estava duro como pedra. Eu suava, muito. Vestia um short e só. Estava deitado no sofá de três lugares da casa de minha mãe. Fui visitá-la e acabei por passar a noite. Ele entrou e não sabia quem era, talvez fosse amigo da casa, um vizinho novo que já ganhara intimidade.

Sentou-se à meia-noite no sofá ao lado, de dois lugares e colocou um dos pés sobre o assento. Vestia uma bermuda larga que mostrava sua cueca e uma camiseta dos Rolling Stones, aquela com a língua enorme. Achei-o bonito logo de cara. Disse oi e ele respondeu. A luz estava apagada e eu assistia a um romance, desses que passam à noite antes de a gente dormir. Olhava de vez em quando para ele, que permanecia imóvel. Não piscava. Assistia ao filme como se realmente lhe agradasse, mas não me parecia ser o seu tipo de filme. Via-o em alguma sessão dos Transformers, X-men, em um daqueles longas ruins do Stallone.

Olhou-me de repente e meneou a cabeça, eu sorri de volta, um sorriso de canto. Olhei para a tevê e comecei a suar. O calor era grande. Já madrugada e no weather do meu celular marcava trinta graus. Ele esticou as pernas, pernas longas, musculosas, peludas. Os pés grandes. Espreguiçou-se e o seu corpo envergou de tal forma, com a cabeça jogada para trás, que eu pude olhá-lo, mesmo que rapidamente, em todos os seus detalhes.

Gostoso. Ele era gostoso. Não sabia se poderia fazer algo. Nessa nossa pequena aproximação não consegui distinguir se ele era hétero, gay. A camisa do Rolling Stones conferia-lhe certa masculinidade, mas isso dizia tão pouco. Olhei para os seus pés demoradamente e minha boca encheu-se d'água. Como tinha pés bonitos. Dedos longos, as unhas cortadas. As pernas abriram-se um pouco e ele coçou o saco, discreto, e tossiu. O abdome se comprimiu. Tinha uma certa barriga, mas nada exagerado, aquela barriga de chope, bonita.

Vez ou outra mudava de posição no sofá e a bermuda mostrava um pouco mais das pernas. Fiquei excitado, muito. Esfregava as pernas tentando escapar daquele constrangimento de estar ereto no mesmo ambiente com alguém que eu mal conhecia, mas olhá-lo tão de perto me fazia querê-lo profundamente. Minha boca oscilava entre o seco e o excesso de saliva. Ele tossiu algumas vezes e seu corpo se comprimia. Tinha força, pareca ter muita força.

Com o tempo, perdi o interesse no filme e criei um em minha cabeça. Ele levantaria e me pegaria pela nuca, então abaixaria sua bermuda e esfregaria minha cara no seu pau, ainda de cueca. Vi isso uma vez em um filme, não me recordo o nome. O rapaz fazia isso com sua namorada e depois eles trepavam no sofá. 

Como ele seria nu? Teria pau grande? Eu desisti inteiramente do filme e não conseguia olhar senão para ele. Acho que percebeu. Pigarreou, tossiu mais. Até que uma hora levantou-se e disse que estava indo. Veio até mim e apertou minha mão.
- Muito Prazer.
- O prazer foi todo meu, chamo-me Fernando, aliás.
- Eu sou o Tadeu. Boa noite.
Não sei ainda se é amigo de alguém da família. Tadeu foi embora tão repentinamente quanto chegou. Meu desejo era pular nele e impedi-lo, dizer que era hora de dormir, mas na minha cama. Talvez ele gostasse. Por algum motivo o imaginei puxando o meu cabelo, me xingando, fazendo absurdos inomináveis.

Fui acordado, lá pelas quatro da manhã, pelo meu irmão.
- Você vai machucar o pescoço, deita na cama.
Eu o agradeci e dormi mais uma vez. Sonhei com Tadeu. Eu estava em uma coleira e lambia os seus pés, ele me batia com um chicote, que eu não via, mas sentia bater forte na bunda. Os pensamentos que tive enquanto ele esteve em casa transferiram-se para o sonho. Toda a maledicência que eu imaginara acontecia ali. Eu gozava, urrava, eu era puro prazer. Um pouco antes de acordar, ouvi ele me chamando. Olhava para cima e seu rosto com as mandíbulas fortes me xingava e eu ria, adorando, quando ele me chamava.
- Lambe.
- Sim, senhor.
- Cadela.

Nunca mais o vi.

domingo, 20 de julho de 2014

Namorin

Eu tinha uma certa ânsia toda vez que o via. Tesão mesmo. Mas a gente não podia ficar juntos. Não assim, às claras.
Mas acontecia, nos víamos quase que diariamente, antes do seu trabalho e logo que eu chegava do meu.
Eu não tinha tempo de fechar a porta da casa. Ele me agarrava e depositava em mim toda a vontade que escondia.
Pedia mais. Sempre pedia mais. Me queria sempre, mas era impensável nós ultrapassarmos aquilo que tínhamos.
Tudo regradinho, fechado, enclausurado. Desbravamos o mundo na minha cama e ninguém poderia saber.
Dizia banalidades, conversávamos como se eu fosse sua mulher, seu homem. Pedia-me conselhos e eu os dava, como se aquilo fosse a extensão da nossa cama.
Tinha um sotaque carregado do interior. Vivera alguns anos no sítio, puxava o r. Achava lindo quando me chamava e o r arrastava.
Falava isso no meu ouvido enquanto me comia. Eu descansava no seu peito e sentia vontade de chorar.
Certa vez ele entrou aqui e sentou na poltrona, desceu as calças e tinha uma câmera na mão. Eu perguntei o que era aquilo, já entendendo:
- Finge que eu não tou aqui. Namora a câmera.
Naquele dia eu não o via, mas o chupei olhando fundo a objetiva.


quarta-feira, 16 de julho de 2014

A Primeira Vez

Foto: Alyssa Monks


Olhou para trás e pediu:
- Morde.
O rapaz não conseguia se mexer. Erguia as mãos, enlaçava o seu quadril, insinuava, mas não fazia nada. Era sua primeira vez. O outro, de quatro, esperava uma reação. Já tirara a virgindade de alguns, mas esse estava particularmente tímido. Demorou tanto para tirar a cueca, que ele propôs chupá-lo no escuro, para que não se olhassem, mas nem mesmo assim.
Conheceu-o em um bar. Olharam-se. Um piscou. O outro sorriu. Conversaram muito e na boate se mostrou solícito, sagaz. Fez piadas inteligentes. Um corpo franzino, mas forte. Ele o apertava toda vez que ria e conseguia sentir os músculos no braço. Cochichou que queria ir embora:
- Mas já?! - perguntou com cara triste - Fica mais um pouco, vai!
- Não quero, tá chato. Vamos comigo.
O outro espantou-se, mas aceitou. Entraram no apartamento e o rapaz parecia outro. Pediu licença, fez que ia tirar os sapatos, mas foi impedido pelo outro. Ofereceu-lhe um vinho e ele aceitou. Trocaram meia dúzia de palavras e foram para o quarto. E então travou.
- Bicho, você gosta mesmo de homem?
- Gosto. Porra, você é delicioso. É só que...
- Esquece o resto. Olha pra mim. Olha mesmo. Eu tou de quatro pra você. Relaxa...
Rebolou no seu colo e virando para ele, piscou maliciosamente. Nada calculado, mas muito ensaiado com anos de prática assistindo aos garotos do xvideos. Encostou a cabeça no travesseiro e, empinado, pediu o que queria. Ele corou. Não sabia.
- E faz como? É com a boca mesmo?
- Isso, é só por a língua e chupar.
Fez. Fez demoradamente. Raspava a barba e beijava a bunda dele. Ouviu uma vez falarem que aquilo era cunete, mas nunca pensou em fazer. Quem colocaria a boca ali? E agora ele beijava uma bunda linda, empinada. Perdia-se nos pelos que o rapaz tinha, bem aparados. Pinicavam na cara. Imaginava como seria o contrário, sentir a barba raspando, junto com o beijo.
Excitou-se tanto, que se masturbou e no fim gozou, beijando o outro.
Pediu desculpas.
- Não pede desculpas, não. Foi delicioso.
- Mas não foi sexo, não teve...
- Ainda não acabou.
- Ah é?! - perguntou com uma malícia sincera mas teatral, de quem acabara de se inciar e queria mostrar experiência - E agora, a gente faz o quê? - perguntou-lhe beijando a boca.
O outro virou-se de bruços e, num gemido quase sussurrado, disse:
- Mete!

E então amanheceu.




(Livremente inspirado na poética de Ricardo Dalai Lima)